Sempre me intrigou a história do
Calabote, caso que frequentemente é recordado pelos nossos adversários,
principalmente pelo clube nortenho. Como disse o nazi Joseph Goebbels "Uma
mentira repetida mil vezes torna-se verdade" e esta história foi nisso que
se tornou.
No Campeonato Nacional de 1958/59 quando se chegou à 26ª e última jornada (22 de Março), marcado por inúmeros casos, FC Porto e Benfica estavam igualados em pontos e na primeira fórmula de desempate, já que haviam empatado os dois jogos entre ambos. O FC Porto tinha então uma vantagem de quatro golos na diferença total entre tentos marcados e sofridos, pelo que tudo se iria decidir nos jogos Torreense-FC Porto e Benfica-CUF. Conta a lenda que o SL Benfica ganhou 7-1 com a ajuda do árbitro que marcou três grandes penalidades inexistentes e que prolongou o jogo por 10 minutos, sagrando-se campeão nacional. A “prova” da verdade desta história foi a irradiação da arbitragem do árbitro Inocêncio Calabote.
Como todas as lendas esta
história tem um fundo de verdade, para ter alguma credibilidade, mas está cheia
de invenções, próprio das lendas. A única verdade é que o SL Benfica ganhou à
CUF por 7-1, mas tudo o resto é pura fantasia.
Prolongamento
O prolongamento não teve 10
minutos. O árbitro não deu mais de três a quatro minutos de descontos,
plenamente justificados pelas constantes perdas de tempo dos jogadores
adversários. O SL Benfica atrasou a entrada em campo (no início e ao intervalo),
facto que levou a que o clube fosse então (justamente) multado, num total de 6 minutos,
que somando aos descontos deu a perceção de 10 minutos de atraso.
O Benfica não foi em nada
beneficiado com essa arbitragem. E o árbitro até teria tido todas as
possibilidades de “dar” o título ao SL Benfica, já que marcou o seu último golo
aos 38 minutos da segunda parte e, quando o jogo de Torres Vedras terminou, o
Benfica ainda teve cerca de dez minutos (seis regulamentares e mais três a
quatro de “descontos”) para marcar aquele que lhe daria o título.
Já agora, recorde-se também a
declaração de Cândido Tavares, treinador da Cuf, ao “Mundo Desportivo”: «O resultado
justifica-se. Mas o árbitro foi demasiado longe na marcação das grandes
penalidades. Não achei justo que assim sucedesse. Pena foi que não adotasse
agora no final o mesmo critério, não assinalando um autêntico “penalty” quando
Durand derrubou Cavém. Era quanto a mim mais razoável”. Estas palavras são elucidativas.
Se o árbitro tivesse desejado “oferecer” o título ao Benfica teria tido
flagrante oportunidade.
Lendo os jornais da época nada
fazia prever a criação da Lenda Calabote. Ficam aqui trechos da altura:
·
Alfredo Farinha, em “A Bola”: “O recurso
sistemático aos pontapés para fora do rectângulo, a demora ostensiva na
marcação dos livres e lançamentos de bola lateral, as simulações de
lesionamentos, o uso e abuso, enfim, de todos esses vulgarizados meios de
“queimar tempo” (…) dificilmente encontram, no caso de ontem, outra
justificação se não esta: a Cuf não jogou, exclusivamente, para si mas também
para uma outra equipa (a do FC Porto) que estava à margem da luta travada na
Luz.»;
·
Ainda Alfredo Farinha, na apreciação ao trabalho
do árbitro: «No que se refere ao prolongamento de quatro minutos, cremos ter
deixado, ao longo da crónica, justificação bastante para o critério do sr.
Inocêncio Calabote.»;
·
No “Mundo Desportivo”, Guilhermino Rodrigues não
comungava da mesma opinião, mas até considerou menor o tempo de desconto e
acabou por o justificar: «Exagerado o período de três minutos que concedeu além
do tempo regulamentar para contrabalançar os momentos gastos em propositada
demora pelos cufistas.»;
·
No “Record”, em crónica não assinada (um antigo
hábito do jornal), uma outra opinião: «Deu quatro minutos (…) pela demora
propositada dos jogadores da Cuf – alguns deles foram advertidos – na reposição
da bola em jogo. Não compreendemos porque não usou do mesmo critério no final
do primeiro tempo, dado que aquelas demoras se começaram a registar desde
início.»
Grandes penalidades
A acrescentar à fantasia dos dez
minutos de descontos, há também quem fale nas três grandes penalidades que o
árbitro assinalou a favor do Benfica. Os jornais foram unânimes em considerar
indiscutíveis o primeiro e o terceiro e apenas o segundo deixou dúvidas.
Estamos a falar num jogo de 1959 em que não havia repetições na televisão até à
exaustão. Se hoje em dia há casos em que se discute a semana toda (e às vezes mais)
com toda a tecnologia existente, imaginem há mais de 50 anos.
Irradiação da arbitragem do árbitro Inocêncio Calabote

O árbitro Inocêncio Calabote
disse, na entrevista ao Expresso, que foi alvo de vingança devido ao jogo
referente ao 1º castigo, pelo novo presidente da Comissão Central de Árbitros,
o Dr. Coelho da Fonseca, adepto do Belenenses, à época um dos quatro grandes.
Neste jogo o árbitro não validou um golo ao Belenenses, numa bola que bateu nos
2 postes e que não entrou, impedindo o clube de se sagrar campeão nacional de
juniores. Ninguém protestou mas, apesar disso, passados uns meses, é suspenso
por 30 dias pelo referido presidente. Passado pouco tempo é irradiado por ter
preenchido mal o relatório do jogo do Benfica-CUF.
O Benfica afinal não foi campeão
Tanto se escreveu sobre esta
história e nunca se refere que quem foi campeão na época 1958/59 foi o FC
Porto, pois acabou por ganhar 3-0 ao Torreense.
O FC Porto entrou com quatro
golos de vantagem sobre o Benfica (na decisiva diferença total de golos) mas,
ao intervalo, o Benfica já estava em vantagem: ganhava por 5-0 à Cuf, enquanto
o FC Porto vencia em Torres Vedras por 1-0. Entretanto, na Luz, o resultado foi
fixado em 7-1 quando havia sete minutos para jogar, mas em Torres Vedras, a
dois minutos do fim, o FC Porto fazia 2-0 e, a vinte segundos do final,
Teixeira marcou o terceiro e decisivo golo. O Benfica jogou ainda dez minutos,
mas não conseguiu o golo que lhe faltava.
O Torreense, que sofrera o primeiro golo
quando tinha um jogador fora de campo, lesionado, jogou com dez jogadores, por
expulsão de Manuel Carlos, desde os 20 minutos da segunda parte, e ainda viu
ser expulso outro jogador a seguir ao 2-0 (por pontapear a bola para longe
depois do golo), sofrendo o 3-0 quando já só tinha nove homens em campo. Casos
houve, pois, no jogo Torreense-FC Porto, com a arbitragem de Francisco Guiomar
a ser contestada pelos jogadores locais.
Conclusão
Essa época teve mais histórias,
todas a prejudicar o Glorioso, mas se quiserem mais pormenores vejam tudo no
blog BENFICA até debaixo d'água,
onde tirei estas informações.
Acho que temos é de começar a falar nesse Francisco Guiomar, numa espécie de estratégia de marketing de guerrilha.
ResponderEliminarE os outros dois irradiados? Aquele que prejudicou o fcp nas Antas contra o slb.. O Benfica ganhou dois um golo de Eusébio de grande penalidade inexistente, tres metros fora da área. O árbitro foi irradiado porque o presidente do slb da altura, César brito, ofereceu um automóvel ao árbitro. O árbitro foi irradiado mas o slb ficou com os pontos e foi campeão. Quanto ao presidente do slb aconteceu.. Nada
ResponderEliminarÉ só enganadores
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