terça-feira, 30 de maio de 2017

Fala Mister

Plantel com muitas mexidas?
"Pode haver mas isso está nas mãos do presidente. Mas quero deixar claro que tudo isto foi pensado e estruturado. Não há drama. Se sair vamos à procura ou temos cá dentro. Se sair é porque financeiramente é melhor e leva o Benfica no coração. Se não ficarmos com eles, arranjaremos outros e teremos uma equipa competitiva."

Preparados para ressaca emocional de ganhar?
"Temos de fazer reset, de voltar a zero de forma humilde e partir para novas conquistas. É importante perceber que não ganhamos porque sim. Isto não caiu do céu, foi muito duro. Primeiro foco: reset e voltar abaixo, para ganhar a Supertaça. Não é fácil, como por exemplo o jogo de ontem. Há 15 dias fizemos algo histórico. Tínhamos de jogar como se não tivéssemos ganho nada. Foi preciso colocar novos objetivos."

Alterações no sistema

"Há espaço para evolução mas está dependente de eventuais saídas de jogadores-chave, se houver. Uma coisa é um lateral que entra na área, outra é um lateral que só faz jogo por fora. Uma coisa é ter Jonas ou atuar sem ele. Estamos a pensar em algumas mudanças táticas e forma de jogar."

Melhor ataque e melhor defesa, acima dos 80 pontos... Dizem que os números são melhores que as exibições. Benfica é demasiado pragmático?
"Não fico obcecado com isso. Aumentámos a nossa posse de bola, criámos situações de finalização suficientes para marcar mais, mas nunca tivemos a tal estabilidade, sem os jogadores chave a funcionar na sua plenitude. Esta irregularidade não ajuda à estabilização. Cada jogo é uma realidade diferente. Fizemos golos de variadíssima forma. Em Portugal temos de arranjar várias formas de ataque as defesas: marcámos de cruzamento, remates de fora da área, combinações. Ouvia dizer que 'Benfica era forte nos lances aéreos, Benfica é forte nos corredores, nas bolas paradas'... e de repente o Benfica era forte nas várias coisas. Em Portugal houve assim tanta qualidade acima da nossa? Não vejo onde."

Era possível fazer melhor na Champions?

"Todos achamos que temos capacidades mas não nos podemos dissociar dos momentos da época. Recordo as discontinuidades na equipa ao longo da época. Entre amarelos e lesões, a base começa a ser modificada e só na parte final consegui escolher a equipa que bem quis, exceto o Jardel. Em alguns momentos não tivemos pedras fundamentais. Jogámos contra uma equipa com sistema tático diferente, forte em casa e não estávamos na plenitude da nossa forma na altura. Objetivo na próxima época? Ganhar o primeiro jogo. A nossa visão é sempre de que há um jogo para ganhar."

Melhor e pior jogo esta época?

"Pior o de Setúbal, apesar de termos tido ocasiões suficientes. Foi difícil, pois veio depois da eliminação na Taça CTT. O melhor, em Alvalade foi bem conseguido, assim como aquele em casa com o V. Guimarães."

O que muda com o vídeo-árbitro?
"O que disse é que sou o maior defensor dos meios tecnológicos que possam melhorar o jogo. O que quis dizer foi em relação ao timing. Houve nove experiências em semi-live e na final seria o primeiro live. Disse que houve jogos sem impacto na classiicação em que poderia ter sido experimentado. A final da Taça correu bem mas podíamos estar a dizer 'já começou mal...'. Mas apoio o que quer que seja. Só falei do timing. Ser o pioneiro é bom mas às vezes é preciso alguém testar para ver se funciona. O que o VAR pode trazer? Os jogadores têm de perceber que podem passar da euforia à tristeza - um lance que era golo mas já não foi - e já os preparei para isso. Ter atenção ao fora de jogo porque se calhar os fiscais vão deixar correr alguns lances e depois logo se vê se estava fora de jogo ou não."

Por que não falou de casos após o dérbi em Alvalade

"Entendi que a melhor forma era não nos focarmos em coisas alheias. Sentia a minha equipa tão focada no trabalho e na conferência o meu jogador nem comentou a arbitragem. Pelos meus jogadores não era preciso. Sabíamos que tínhamos sido melhores e que podíamos ter ganho, mas que teríamos os nossos momentos para ganhar o campeonato."

Meia-final da Taça com Tiago Martins na Taça CTT e a expulsão
"Foi uma má interpretação da equipa de arbitragem do que disse. O que disse foi nos locais que acho adequados, frente a frente com o árbitro, talvez num tom mais exaltado mas sem exageros. Depois, em termos públicos não o fiz, apenas à frente dele. Houve foi mais interpretação do que disse. Sobre o processo, já fui ouvido e estou em crer que o processo vai ser retirado"

Época tensa, com o ruído externo?
"Trabalhamos em paz na nossa caixa-forte e os jogadores estão muito alheados. Todos pensam que influencia a equipa mas não, estamos focados no jogo seguinte. O que vem de fora é acessório."

Mais difícil correr atrás do primeiro lugar (2015/16) ou segurá-lo (2016/17)?
"Ambos foram difíceis mas senti esta época mais dura. Não por ir na frente mas sim porque sabíamos que tínhamos de corresponder às expectativas. Qualquer problema o balão podia rebentar. Estamos de tal forma trabalhados para essas questões de estar atrás ou à frente que só olhamos para o jogo seguinte."

Pizzi foi o melhor da época?
"Difícil dizer. Pizzi fez uma belíssima época. Tem de ser alguém do Benfica o melhor do campeonato. Olhando para a questão do rendimento, ele andou sempre entre o 8 e o 10, com um rendimento muito elevado e regular."

Pizzi deslocado para o centro
"Começámos com o Horta mas ele lesionou-se. A solução que dava mais capacidade era o Pizzi, que tem projeção vertical, não é só um '8' de passe. Começámos a moldar o nosso jogo em função do Pizzi e não era bom fazer outra mudança. Ficou estável e não mexemos. Gosto de o ver em qualquer posição. Está na fase de maturação e percebe como ninguém o jogo, quer na ala quer no centro. Esta no centro é mais de risco, há uma série de ligações e em alguns jogos corremos alguns riscos."

Reforços precisam de mais tempo para explodir na próxima época?

"É preciso ver que as contratações não são produtos acabados. A contratação que fazemos nunca é óbvia. É preparando o seu futuro e a saída de jogadores, um futebolista que entra na fábrica e depois poderá aparecer. Estamos a falar de Zivkovic, Cervi, etc. Nas alas tenho jogadores de grande qualidade. Qualquer dos cinco merecia estar em campo. Rafa tem características para alguns jogos, Zivkovic tem um pé esquerdo de eleição e falta-lhe o rasgo, etc... Foi a posição em que alternámos mais."

Prefere plantel inteiramente feito por si com o presidente ou um plantel que lhe é apresentado logo ali?
"Aqui há sintonia perfeita entre treinador e direção. Enquanto treinador, não devo viver para mim. Estou inserido num clube com um paradigma que devo respeitar. Se temos uma filosofia de jogadores jovens, tenho de perceber isso. Esta sintonia tem de existir e temos de estar à vontade para falar. Aqui acontece isto. A minha idade será conversada e vou percebendo a parte comercial. Daí ter feito aquelas vendas e poder fazer outras agora. Não pode ser exclusiva de um direção ou de um treinador. Há sempre espaço para uma variabilidade de jogadores. Optámos por ter Mitroglou e Jiménez, que são quase opostos. A variabilidade hoje é uma grande riqueza para contrariar as outras equipas. Ter um modelo fechado é bom mas pode depois ter alguns problemas. O ano passado jogámos com uma defesa e este ano com outra. Depois vamos incutindo os tais princípios. Ligando à parte comercial, há espaço também para ir de encontro às ideias da direção."

Júlio César suplente mas efusivo a celebrar o título, entre outros como André Horta ou Jardel. O que lhes disse?

"Ficamos todos arrepiados, é o que um treinador gosta. Fui eu que agradeci ao Júlio, pela sua postura no grupo, sempre valorizado pelo grupo e pelo o que podia acrescentar. Lembrei-me de um jogo em que ele puxou do estádio que estava adormecido. É o primeiro a ajudar o Ederson. É dos mais titulados do Mundo e a postura dele... Todos querem jogar mas tínhamos 28. Tomara ter mais jogos para eles atuarem. Fico contente por eles perceberem isto. Coerência é decisiva na vida."

Trata todos por igual?
"Nunca nos devemos esquecer que estamos a falar com profissionais, cada qual com os seus problemas e fases boas. Se houver problemas em casa, qual é o profissional que pode render? Tenho de perceber como um jogador vive ou pensa. Não posso tratar todos por igual. Temos de entender como as pessoas funcionam. Tenho expectativas diferentes em relação ao Luisão ou de um jovem de 18 anos. É preciso conhecer essas expectativas. Hoje, para o Luisão é ficar na história e provar que com aquela idade pode ser um grande jogador. Dou-vos um caso concreto deste ano: o Jonas, que no ano passado tinha sido o melhor goleador, esta época já não seria o melhor marcador pois já não tinha tempo. Qual é a motivação que deve ter? É ser decisivo. Em sete, oito jogos ser decisivo, sem preocupação em fazer muitos golos. É procurar o contexto individual de cada jogador."

Relacionamento com jogadores é o mais importante?
"Partilho da opinião, porque um treinador de um clube desta dimensão tem que ser um conhecedor de várias áreas. É a minha visão. Sou treinador do Benfica quando vou para casa ou ao restaurante, tudo o que faço é escrutinado. Mas os outros aspetos são importantes. Temos de nos preocupar com todas as áreas - social, mental, a filosofia do clube, a visão do presidente, a essência dos jogadores -, uma série de coisas com que nos temos de preocupar. Vou, assim, por um tudo que é fundamental o treinador ter."

Momentos de pancada?

"Todas as derrotas são complicadas. A derrota na Taça CTT ou Dortmund, no Bonfim, são complicadas, em que sabemos que nos vão criticar. NO Benfica temos algo muito bom, que é a onda positiva, mas também o balão rebenta com muita facilidade. Vai enchendo e há um desaire a casa vai abaixo, nem tudo é preto ou branco."

O que traz de pai para o papel de treinador?
"Quando se fala da questão da família, não utilizo como chavão. São os laços, em que estamos uns para os outros, como nas famílias... Não é preciso exageros para haver coesão. Trago, em relação à paternalidade, uma relação que se estabelece. Aprendi com o meu pai o dar rédea controlada e transporto isso para aqui. Os meus jogadores andam à vontade, tenho uma reação equidistante mas quando acho que devo intervir, chamo a atenção. Tenho mais tendência a intervir nas críticas do que nos elogios. Há momentos em que temos de levar pancada ao longo da época, entendemos todos isto, são coisas da vida."

No triunfo há quatros a mensagem foi forte para os jogadores do V. Guimarães. E agora, com os jogadores do Benfica?
"Cada contexto é um contexto. Não podia dar a mesma mensagem. Apelei ao facto de a época não poder terminar sem esta conquista, era a cereja no topo do bolo. Tínhamos de aproveitar aquele palco. Os nossos jogadores já estão habituados a isto. Os jogadores do Vitória iam fazer a sua final. Conseguimos fazer ver que esta final era importante, como se vivessem uma Liga dos Campeões. São realidades diferentes."

Celebração de Jiménez com a máscara
"Estas coisas fazem parte de um grande espetáculo. Na altura fiquei um pouco preocupado e aborrecido por causa do amarelo. E num jogo destes é uma pena nos preocuparmos com estes amarelos. São as leis. Não tive a felicidade toda porque um jogador ficava com um amarelo. O Raúl já em Vila do Conde teve aqueles festejos que correram Mundo. Faz parte do espetáculo. Achei curioso embora como treinador não tenha gostado tanto, mas achei engraçado."

Fotografia de conjunto no balneário no Jamor?


"Legenda da foto? Antes desta foto ser tirada, estavam lá as duas taças e um espaço para encaixar a terceira. Foi um grande desafio que criámos, ter lá um espaço para essa taça e tirar a foto. Isto foi a forma como ganhámos os três troféus: unidos."

Imaginava esta temporada assim?

"Quando começamos uma época pensamos sempre nisto, em ter sucesso em todas as provas. Sabíamos que seria difícil, como no ano passado, mas acreditamos nas nossas armas. Sabíamos que era possível."

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