segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Bruno Vieira Amaral in Expresso

Hoje, o Bruno Vieira Amaral escreve no Expresso mais uma carta aberta ao tratado de incompetência da atual estrutura do Benfica:

"O Benfica mudou de presidente, mudou de treinador e a equipa cada vez se afunda mais, como um náufrago a esbracejar em desespero e sem uma boa ideia de como sair daquela situação. A eleição de Rui Costa, apesar do CV do atual presidente, os seus longos anos de ligação a Luís Filipe Vieira, deu a impressão de um novo tempo. Não era uma limpeza de fundo, daquelas em se deitam fora todos os trastes velhos e se compram mobílias novas, mas uma discreta reorganização, um trabalho subtil de decoração de interiores.
Assim que os resultados desportivos pioraram, esgotou-se o efeito da novidade e teve de se avançar para mais uma remodelação. O alvo era óbvio: o treinador. Mas a saída de Jorge Jesus, nas circunstâncias em que ocorreu, aparentemente empurrado borda fora pelos jogadores amotinados, exigia uma rápida reposição da autoridade, que o presidente já tivesse na manga outra solução sólida, que não ficasse à mercê dos caprichos do balneário.
Em vez disso, agarrou-se a Veríssimo, um bote salva-vidas cheio de buracos, a escolha mais parecida com uma não-escolha que Rui Costa poderia ter feito, o treinador que tinha ali mais à mão, justificando-se com o exemplo de Bruno Lage, que também saltou da equipa B para conquistar o campeonato, esquecendo-se do triste final de Lage à frente do Benfica.
Os resultados da não-escolha estão aí: ao fim de meia-dúzia de jogos a equipa está mais partida e perdida do que nunca, Veríssimo é um cadáver adiado e o próprio clube parece ter sido vítima de uma daquelas toxinas potentes que paralisam os músculos. A pessoa permanece desperta e consciente, mas o corpo não reage às ordens do cérebro. Vê tudo em câmara lenta, de forma agonizante, a tragédia a desenrolar-se sem que a consiga travar: “Lá vem o Sporting a alta velocidade, vem na minha direção, vai atropelar-me se eu não sair da frente, mas eu não me consigo desviar e aquele verde é tão bonito e… crás!”
Imagino Rui Costa afundado na cadeira de couro do seu gabinete, atormentado pelas hesitações, preso a um torpor invencível: “Eu devia mesmo arranjar um treinador porque o Veríssimo não é treinador para a equipa principal, mas para o tirar daqui tinha de fazer um esforço enorme e tinha de ir à procura de outro treinador e faltam-me as forças e talvez isto com ele dê para aguentar até ao fim da época e talvez haja um milagre, talvez dê para salvar a época com a Liga dos Campeões…” Enquanto se emaranha nesta rede de talvez e dúvidas, a equipa continua a resvalar para o abismo.
Pior do que os resultados, que têm sido maus, são as exibições, que têm sido péssimas. E pior do que as exibições, que têm sido péssimas, é esta sensação coletiva de pântano, que é horrenda e atinge toda a estrutura e se propaga para os adeptos. As chicotadas psicológicas costumam espicaçar os jogadores, mas esta foi como a estocada final que lhes retirou as últimas forças que lhes restavam e que tinham usado, em larga medida, para um derradeiro ato de insubordinação.
Os adeptos já têm saudades daqueles maravilhosos tempos em que parecia que eram os jogadores que não queriam. Agora está à vista de todos que não podem e não sabem e também não têm ninguém que os ensine e os lidere. É a fase pantanosa. Está tudo podre, insalubre. Os poucos sinais de vida são uma espécie de arrotos, de gases expelidos pelos cadáveres em putrefação. O Benfica pratica um futebol moribundo, enfermiço. Os jogadores arrastam-se em campo como pacientes a percorrer os corredores de um hospital ainda com ligaduras na cabeça, meio aturdidos. O treinador não manda, a direção é uma miragem, o presidente é um fantasma de si mesmo. Não há alegria, nem disciplina, nem vontade. Não há esperança, nem ideias, nem objetivos. Aliás, se há um objetivo, é o de se chegar ao dia seguinte. Para fazer o quê? Isso é que ninguém sabe."

1 comentário:

  1. RGS OU O APOCALIPSE

    Nem tanto!!! Existem tantos Benfiquistas , sérios, com mérito, em tempos defendi RGS, achei que poderia ser uma alternativa, ainda hoje, mas o BENFICA não começa nem acaba com RGS, o que me intriga em RGS, é em determinados momentos cruciais, se isola, não se apresenta, não tem equipa, aconteceu quando das últimas eleições que concorreu, que considero que foram adulteradas, mas no momento da campanha não apresentou nomes além do dele, não apresentou uma equipa, não se rodeou de Benfiquistas, parece um projecto só dele, e existem tantos Benfiquistas, com capacidades de gestão e em outras áreas que considero um enigma alguém não se saber rodear por gente capaz e competente, isto também se aplica a RC, parece que só conhece aqueles que o dono do palheiro colocou lá. Além daqueles que ouço nos canais em aberto da TV, nos quais dá para entender que existem alguns bem preparados, outros pelo contrário, mostram toda a sua incapacidade, existem muitos outros considerados anónimos com muito mérito, outros que lá estiveram, que foram afastados ou se afastaram, pois não dependem do GLORIOSO para sobreviverem e foram às suas vidas, não estavam para aturarem gente que atira por tudo e por nada, a denegrir a vida das pessoas, das suas famílias, gente que pautou as suas vidas por príncipios e valores, ao contrário do dono do palheiro, que queimou tudo à sua volta, que destruiu o BENFICA, que usou e abusou. Não acredito no Sebastianismo, nos salvadores, nos iluminados, acredito no mérito, na competência, na excelência, na capacidade de formar uma boa equipa, não só de futebol mas também directiva, até acho que é altura de RC se assumir com Presidente, ver o BENFICA como um todo, delegar o futebol a alguém competente, ter um organograma bem definido, e supervisionar como PRESIDENTE todo o desempenho dos intervenientes e escolhidos para dirigirem as diferentes valências directivas do CLUBE, ter um presidente que continua só a ver futebol, a querer escolher treinadores, jogadores, negócios, ter luzes, palpites etc, é pouco para quem é CEO da multinacional internacional que é o GLORIOSO ... alargar os horizontes, ter uma visão ampla, saber-se rodear de pessoas competentes, ter um rumo, deixar-se de politiquices, e ampliar perspectivas.

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